Soneto

MENDIGO DA ALMA

MENDIGO DA ALMA

Velho de olhar triste, pobre e vagabundo
Tens por companheira a miséria dominante
Viajante de alma e mendigo neste mundo
Que em delírio beijas o pó, murmurante.

Onde os dias e as noites passam sem ter pressa
Onde nada é diferente e tudo te parece igual
Até o dormir, no canto escuro de qualquer travessa
No chão de pedra enganas o frio num leito de jornal.

Mora próximo a demência, que cultiva esse fadário
Nessa alma adormecida, em que a sorte é a morte
Que num ato de amor, termina esse Calvário.

Senhora do Lago

SENHORA DO LAGO

Donde vieste tu senhora do lago, ardente, vibrante audaciosa
Envolta nos mistérios das brumas, que esconderam tanta beleza
Que ilha de aromas e encantos te conservaram tão airosa
De que reino e de que história são as insígnias da tua nobreza.

De que tempos, de que séculos, te trouxeram a nós doce rainha
Embalada por harpas pressagias e pelo troar das trombetas
Que horas profundas, lentas e caladas, teve senhora minha
Que não ouvistes os cânticos sacros que te cantaram monges poetas.

Deusa da Aparição

DEUSA DA APARIÇÃO

No vento da noite o murmúrio do som de um violão
Um som que ecoa, uma voz que canta num tom que balança
À luz da fogueira vozes se juntam num velho refrão
Um corpo frenético, ao ritmo da música pula e avança.

Descalça de cabelos ao vento graciosa como uma gazela
Em movimentos ondulantes, num corpo de escultura
De recorte de Deusa Pagã, fresca e jovem, pura e bela
És poesia em movimento num soneto à formosura.

Poema Adormecido

POEMA ADORMECIDO

Poeta tímido, que te escondes no silêncio cinzento do teu poema
Castrando a inspiração na brandura da tinta dormente do teu verso
Eu moro onde habita a tua dor, nessa estrada que percorre a tua pena
Bebo a água fria do teu lago, onde a inspiração, ascende ao universo.

Poeta sem língua, filho de um poema esquecido
Fustigas o remorso no castigo de uma vida sofrida a sós
Transportas a angústia no choro da tua aura de poeta adormecido
Queres que seja branda essa dor, então, faz da pena a tua voz.

Amor Naufragado

AMOR NAUFRAGADO

Nunca perto, sempre longe, sem domínio e sem cadência
Navego na noite escura sem estrelas, à luz das velas
Sem rumo nem orientação, sou um náufrago da tua demência
Perdido neste mar de sentimentos, sem portas e sem janelas.

Deste amor navegante que se perdeu no mar e naufragou
Por não encontrar um porto de abrigo, farol ou uma luz acesa
Flutuando há deriva não resistiu a tanto rombo e se afundou
Nos vis baixios do ciúme contra os rochedos da incerteza.

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