o fulvo regato da poesia
Autor: António Tê Santos on Wednesday, 12 April 2023a razão tem teias que cingem um abismo recalcitrante; tem a poesia como alvo quando ressalta a inspiração; e tem um destino austero que cicatriza os ferimentos.
a razão tem teias que cingem um abismo recalcitrante; tem a poesia como alvo quando ressalta a inspiração; e tem um destino austero que cicatriza os ferimentos.
recordo as pistas assombrosas que cursei sem que a maturidade esbatesse o meu desconsolo e a lonjura do amor; e sem que a poesia me nutrisse a alma devastada por tantas deceções.
o poeta é infeliz neste mundo conturbado; neste mundo que anula a sua inspiração através de intervenções congruentes com a urgência em sobreviver; neste mundo assoberbado por disputas cruéis.
O amor saiu da lista de espera
depois de tantas luas e penumbras no sorriso
o amor e sua eficácia veio ensolarar!
pois nem trevas impedem sua santidade
o amor estava desacordado
mas espera , que a vida é bela!
e o amor vai a ti chegar .
a luxúria resvalou pelas vertentes da minha solidão: iludiu as minhas mágoas quando derivou para uma excêntrica atividade que transmoveu muitas fantasias; pungiu a minha vida quando me impulsionou para roteiros doentios.
Imagina ter superpoderes,
Voar, sumir e transcender,
Delegar aos ímpios seres
Moral, decência a se ter.
Imagina ser um arquétipo,
Ser um símbolo universal,
Ser um motivo ético,
Para lá de transversal.
Queria ver um super-herói,
Também um vilão maligno,
Um motivo que corrói
O doutor do hospício clínico.
a minha poesia jaz no topo duma montanha escarpada donde emite as narrativas corrosivas duma rebelião interior; donde excita os escrúpulos que anulam a festa pagã que inventei; donde captura os eventos putrefactos da minha vida mundana.
estava em busca
dos ferrolhos rompidos
no túnel vesgo
que não conduz à saídas
estava no invólucro
de um caramujo rasteiro
como a larva no casulo
rompendo a casca madura
estava coletando letras
para cunhar palavras urgentes
um sussurro qualquer inaudito
que me valesse o batente
estava meneando lustres
como aleluias possessas
no afã de capturar
seu lúmen e calor confessos