Surrealista

Ás portas do céu

Às portas do céu

 

 

 

Agora que morri...

E que choraste ...deixa-me ir...

e esquece o dia em que me encontraste

e agarraste a minha mão, calejada pela vida

a minha alma já não é alma...é apenas um suspiro

é apenas um sussurro, dito num silêncio absoluto

um silencio como quando dormes ...agora sem mim

E agora que cheguei ás portas do céu

Não encontrei nenhum rosto, dos que toda a vida recordei

São apenas desconhecidos, que inventei para não estar sozinho

Derradeiro

Num abraço de amor próprio subiu ao monte das recordaçoes
e no ultimo esforço transportou em si toda a sua vida
no fim da viagem perdida sentou-se na alma das emoções
encostou-se  à solidão  e viveu a angustia da despedida

inspirou devagar, saboreou o ar  e sentiu o cheiro dos antepassados
num gesto de caridade a brisa passou e saudou na despedida
sorriu em si, tombou o peso sobre os passos já dados
limpou os olhos e nas maos tomou o seu corpo de partida

(Mente.)

Mente.
Falsa a tua mente
somente
ignorada pela mentira
que se tornou a tua vida
sentira
sensivelmente
o momento da perda de consciência
demência mental
surreal
perda de memórias
com histórias por contar
perdidas em glórias passadas no tempo
Bloqueia o sentimento
revoltado por si mesmo
com sombra e cheiro diferentes do teu
mais vida encontras no teu reflexo

Opções

Sou da noite mais longa companheiro
procuro-me a decidir nas encruzilhadas
repenso nas decisões e sou batoteiro
escolho também as opçoes tomadas.

Voltar a escolher e viver de novo
recuar no tempo sem voltar atrás
viver sem optar por não ter motivo
voltar ao presente e ser como está.

" Lamento.. o Mundo"

“ Lamento o Mundo”

Fugi, insurgi, divaguei na minha ausência,

Aqui, depois ali, em lado algum, me conheci...

No invisível, que sonhei, fiquei na Alma onde surgi,

Roubei o tempo, e na vontade eu me escondi,

E ali no nada, éter na vida, danço com a morte,

Desnudo o corpo, sou divindade, sou transparência...

 

Ambiguidade, dualidade, intransigência,

parto

vozes que batem na porta fechada, ecos devolvidos.
lamurias repetidas gastas do usar ja farto
outros sons ganindo que se misturam nos ouvidos
da mulher que geme espremendo o parto.
Pariu a luz, a estrela maior que lhe aponta o caminho
bebeu nas aguas sujas e subiu a escada que foge do mal
deixou para trás o leito do homem que fala sozinho
levou pela mão a cria acorrentada no cordao umbical.
Levantou as saias, mijou de pé ao centro da terra
Gritou veneno, saiu da orbitra do olho castanho

Teimosia

Se me permitirem um ultimo desejo
quando a minha hora chegar,
considerando tudo o que vejo
eu peço querer já cá não estar!
Trocar as voltas à morte,
e vence-la na antecipação
abusar da minha sorte
e morrer, antes da finação!!!

insolencia

Insolencia

A poucas horas da esperança um sorriso passou  e tocou o vento
Outras almas curvaram-se e expetantes aguardaram o veredito
Ninguém ousou, até então desafiar assim, diretamente o tempo
Todos tinham medo do presente. O medo do eterno maldito

Que sorriso maluco, estrangulou a expetativa, deu a sentença
As outras horas fugiram para o túnel do passado de sentido único
Dos céus desceram raios, vieram ajudar em tamanha insolencia
das bocas os sorrisos se esconderam deixando para trás o louco

Arthur Santos (1951-2552)

Arthur Santos (1951-2552)

Hoje resolvi morrer em 2552!
não. não foi uma decisão
de ocasião.
foi maduramente pensada
e não foi à sorte.
sempre achei uma maçada
não saber a data da morte
e decidi deixá-la já marcada.

nasci em 1951 e ainda pensei:
já sei!
será em 2451 um número redondo.
morrerei sem grande estrondo
nem alarido,
500 anos depois de ter nascido!

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